terça-feira, 4 de outubro de 2011

Meu bloguinho fez um ano no mês de agosto - um brado de vivas, por favor, kkkk - e finalmente hoje vou postar o texto que deu origem a ideia de se criar esse humilde blog. Ele foi escrito no inverno de 2010, em Arinos/MG.

EU QUERO UM XODÓ DE VERDADE


À Elzinha, aliás, à eterna criança dentro dela.

Ouvi certo dia, algo espetacular, de um alguém que quase ainda não viveu, palavras com as quais Drummond faria uma obra-prima de poema. Lamentável o itabirano não ter tido acesso à palavras que pareciam soar da boca de alguém já marcado pelas rugas do deus Cronos. Mas ao contrário, presenciei a impagável discussão de dois adultos acerca do que temos amado, o que temos guardado em nossas listas de XODÓS. Eis a discussão:
- Meu xodó é essa máquina!!! Tenha cuidado com ela!
Era uma câmera de filmagem de última geração com fita digital – coisa que eu nem sabia existir! – com super zoom e com certeza um super cifrão também. O outro adulto (de certa forma encabulado):
- Não se pode ter coisas materiais como xodós. Xodó é xodó. Uma pessoa, um animal de estimação. Bem propícia aqui a descrição do Aurélio para XODÓ: sm. bras. 1. Namoro. 2. Namorado. 3. Amor, paixão. Presenciando e ouvindo, não titubeou o mancebo em dizer:
- É mais fácil ter coisas materiais como xodós, porque as pessoas magoam e não se pode devolver.
Excelente! A resposta tem muito fundamento. É uma excelente resposta, mas não é boa para a existência humana, não é boa para mim, nem para você. Vivemos em um tempo de desamor em que as pessoas preferem objetos e coisas como xodós a outras pessoas. E a resposta do jovem não está errada, décadas antes Saint Exupéry afirmou: “A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar”. É uma verdade fatídica: as pessoas magoam. Mas eu prefiro o risco de ser magoada a não ter reciprocidade com uma câmera, com um automóvel. Ter um xodó é muito mais que só amar, é um processo de troca, de recíproca...
Aurélio disse que xodó é namorar, amor, paixão, como amar e não ser amado, como ser apaixonado por um objeto inanimado? Tudo bem que não há razão no amor, mas, não vamos exagerar.
Eu – por livre e espontâneo desejo – correrei o risco de magoar-me hoje, amanhã e em qualquer dia da semana, mas serei mais feliz porque quando chego em casa o meu XODÓ me sorri ou abana o rabo; me abraça ou somente me cheira. E tudo bem que – talvez e tomara que não aconteça – meu xodó pode me magoar e eu não poderei simplesmente devolvê-lo. Onde e para quem??? Um objeto sim, no dia em que não funcionar bem eu posso devolvê-lo na loja, e não raro, substituo-o, mas e um filho, uma mãe? Pra quem devo devolver? E além do mais, pra onde iria a riqueza semântica e a semiótica de se cantarolar Dominguinhos: “Que falta eu sinto de um bem/ Que falta me faz um xodó/ Mas como eu não tenho ninguém/ Eu levo a vida assim tão só”.
Sim. Sim! Eu me rendo ao risco de ser magoada, mas, mais que isso eu me rendo em dar e receber colo; estender a mão; abraçar; doar-me, enfim, amar literalmente, sem metáforas. Corra você também esse risco, sem ser assim, a vida não tem graça... Bom mesmo é amar e ser amado, o resto são só coisas...

No início do texto eu avisei. Drummond faria uma obra-prima, eu??? Só isso aí, kkkkkk.


Bjim doce cheio de xodó, 
Lyu Letrass

11 comentários:

  1. Qualquer relaçao corre o risco de uma magoa,de uma decepção, se nao arriscarmos nao saberemos..
    gostei do seu texto muito criativo PARABENS.....

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  2. Putz, só agora (re)lendo o seu texto, dei-me conta de nossas conversas. Parabéns. Texto muito gostoso de ser ler... Parabéns...

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  3. Bota o link aí pra gente te seguir, dona... Assim não tem graça...

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  4. Então, Rosa,

    O link ta aí, talvez não tenha carregado qdo vc acessou, na tag "Letreiross de Plantão". Continuo agradecendo pelo incentivo há um ano atrás para abrir esse blog. Bj

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  5. Que emoção amiga! Ler esse texto de novo e lembrar do dia em que vc foi inspirada... Eu estava lá e jamais imaginei que você usaria minhas humildes palavras para criar uma obra prima!!!! Você é incrível! Amo-te! ELzinha

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  6. Elzinha,

    Esse texto foi nascido a partir de um pedido de carona (se lembra? Naquela época vc ainda era humilde, pequena...Não andava pela vida de Pálio, especificamente esse dia, andou de Bizzzz, kkkkk). Vc me permitiu presenciar seu diálogo, e, eu apenas transcrevi sua atitude que faz de vc, a verdadeira obra prima da história. Te amo, sua linda!

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  7. Tô passada ..feito um bife...cada texto dessa mocinha que leio me emociono de verdade...
    Beijos e que "Ele " te abençoe sempre...

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  8. Eliane,

    Obrigada por suas palavras e que bom que está gostando do que está lendo por aqui.

    Seja bem-vinda...

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  9. Eis que estava na net procurando algo que confortasse meu coração e me deparo com esse lindo texto. Pensei que devia deixar de amar para assim, não me magoar. Desisti de ter mais cachorros e hoje só tenho peixinhos, saudade muita de "Duque" (in memorian), "Bolzo" fiel escudeiro (in memorian)e "Sadan". O medo de ser magoada e de perder nós torna egoísta e prisioneiros do "não querer". Obrigada Eliane, não vou me fechar mais. Quase desisti de um grande Amor, pena que não li seu texto antes, já fiz a besteira... aprendendo sempre... bj

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  10. Lindoooooo Liu, amei!!!! Morar em alguem bem, profundo mas suave...LINDO,LINDO,LINDO!!!

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  11. Lindoooooo Liu, amei!!!! Morar em alguem, bem profundo mas suave...LINDO,LINDO,LINDO!!!
    20 de outubro de 2011 11:17

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